Por Oswaldo Viviani,da Globonews
Em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, exibida no domingo e ontem na Globonews, o general Leônidas Pires Gonçalves, 89 anos, confirmou que praticamente teve de mandar o atual presidente do Senado José Sarney tomar posse na Presidência da República, em março de 1985, em razão da doença do presidente eleito Tancredo Neves (PMDB), que morreria em abril. De acordo com o general – que seria ministro do Exército durante todo o governo Sarney (1985-1990) –, ele telefonou para Sarney na madrugada do dia da posse (15 de março de 1985), e, ao perceber certa hesitação no vice de Tancredo, encerrou a conversa com um brusco “Boa noite, presidente”.
“Eu telefonei para ele [Sarney] de madrugada. Ele me disse assim, quase textual: ‘Leônidas, estou muito constrangido de assumir amanhã sem o presidente Tancredo Neves’. Aí eu disse para ele: ‘Sarney, deu muito trabalho organizar todo esse evento de amanhã, e está previsto, de acordo com a Constituição, que você assume. Portanto... boa noite, presidente’.”, contou o general, repetindo o tom impositivo que teria usado com Sarney.
Leônidas Pires também confirmou que, dias antes dessa conversa, havia deixado claro a políticos integrantes da ala que pretendia ver no comando do país Ulysses Guimarães (PMDB), então presidente da Câmara dos Deputados, que ele – e o Exército “por trás dele” – não aceitariam outra solução que não fosse a prevista na Constituição Federal: o vice, no caso Sarney, assumiria.
Leônidas contou: “(...) No Hospital de Base [em Brasília, onde Tancredo Neves fora internado, antes de ser transferido para São Paulo], estavam todos os líderes, Ulysses, Sarney, Marco Maciel, Francisco Dornelles, José Fragelli, reunidos no centro de uma sala, como jogadores de rugby. (...) Fui ao centro do terremoto, ouvi as entourages de cada lado. Me dei conta de que o assunto era o seguinte: ‘quem vai assumir [a Presidência da República]?’. Estavam num impasse. Pensei: ‘Esse problema pode virar um problema sério’. Ouvi mais um pouco, aí cheguei e disse; ‘Senhores, não sei qual é a dúvida dos senhores. De acordo com os artigos 76 e 77 da Constituição, quem assume é o vice-presidente’. (...) Sabe qual foi a reação [dos políticos presentes]? Nenhuma. Parece que eles estavam esperando que alguém com conhecimento [jurídico] e firmeza dissesse o que tinham de fazer. E a partir daí, de uma maneira ou de outra, eu passei a comandar o espetáculo. Eu tinha mais do que conhecimento, tinha o poder. Eu estava com todo o Exército brasileiro atrás de mim, eu sabia...”.
Além de confirmar pela primeira vez ter participado como principal protagonista dos atos que levaram José Sarney à Presidência em 1985, o general Leônidas Pires – que chefiou o DOI-CODI (a polícia política do Exército), no Rio de Janeiro, entre março de 1974 e janeiro de 1977 – fez outra declaração bombástica na entrevista a Geneton Moraes: disse que o Exército pagou, em dinheiro, a um dirigente do Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, informações sobre onde se realizaria uma reunião em que os dirigentes discutiriam a Guerrilha do Araguaia. O PCdoB atuava na clandestinidade durante o regime militar.
Repassadas ao II Exército, em São Paulo, as informações obtidas pelo I Exército, no Rio, resultaram na invasão da casa onde estava reunido o Comitê Central do PCdoB, na Rua Pio XI, 767, no bairro paulistano da Lapa, no dia 16 de dezembro de 1976. Três dirigentes morreram na operação – que ficou conhecida como “Massacre da Lapa”: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Baptista Franco Drummond.
Durante a entrevista – que será reprisada hoje às 11h05 –, o general Leônidas chamou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de “fugitivo”, palavra que ele usa no lugar de “exilado” para se referir a todos os que saíram do Brasil durante o regime militar.
Fonte:Rede PDT(06/04/2010)
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