*Verus philosophus est amator Dei - Santo Agostinho

domingo, 18 de abril de 2010

Leia o texto abaixo...Vale a pena...Ok!!!

Menos caridade, mais educação*

Somos constantemente solicitados, como cidadãos, a fazer doações caritativas. Entretanto, poucas vezes se trata da opção mais acertada, pois é importante avaliar, em cada caso, até que ponto, realmente, estaremos prestando uma ajuda efetiva e duradoura em seus resultados. No caso de pessoas carentes, cujas condições físicas não mais podem fazer frente às exigências da vida, como os idosos e os doentes incapacitados, certamente há justificativas para tal auxílio. Contudo, na maior parte das vezes, somos demandados a fazer doações a pessoas e famílias que poderiam esforçar-se para ir ao encontro de prover seu sustento e progresso na vida. Mas, se nelas houver uma tendência a esperar que o Estado ou pessoas com mais posses as supram, estaremos concordando com este imaginário de incapacidade. Trata-se, muitas vezes, de uma suposição doentia, efeito de processos de exclusão, pelos quais, desde a infância, não há identificação a parâmetros valorativos de autonomia. Portanto, a exclusão econômica poderá ser uma decorrência desses fatores de ordem psíquica atrelados a auto e hetero segregação. Assim, deparamos com uma massa empobrecida que, em geral, também teve pouco acesso à educação formal, a valores éticos e a uma identificação com os pais em relação ao trabalho, com a consequente baixa de autoestima face à sua suposição de incapacidade. Nessas famílias, são comuns as atitudes condescendentes dos pais, que podem levar a sérios problemas comportamentais, que se estendem à escola. Deste modo, como haveria condições para a aprendizagem de conteúdos? O que a sociedade poderia efetivamente fazer, pública ou privadamente, para intervir nas situações de exclusão social e de adoecimento psíquico?

O que significa investir efetivamente em educação? Talvez o aspecto mais benéfico para estas escolas seria encontrar maneiras de conferir uma efetiva autoridade aos professores, para que eles pudessem ser respeitados. Enquanto a autoridade for considerada pelas famílias um aspecto quem sabe retrógrado, que o Estado não se autoriza a modificar, os fatos mostram não haver um apoio efetivo aos professores e, por esta razão, eles terão que continuar convivendo com sérios problemas de indisciplina, desrespeito, uso de drogas e ameaças. Quem pode transmitir conteúdos em situações de medo em relação a alunos desafiadores e agressivos?

Por outro lado, se o Estado insiste na política de conceder “bolsas” para todos os fins à classe pobre, será que efetivamente estará melhorando as condições de educação e dignidade das famílias? É fato que, a curto prazo, aumenta-se o consumo interno no país, mas, a médio e longo prazos, estaremos estimulando uma mentalidade infantilizada e credora. E, se as famílias carentes esperam que o Estado supra suas necessidades, ao mesmo tempo estar-se-ão sentindo subestimadas e tratadas como incapazes de buscar seus próprios meios para melhorar suas condições de vida. Não será este sentimento que transmitirão aos próprios filhos? Se pensarmos nos povos imigrantes, percebemos que sua cultura de trabalho os fez prosperar sem esperar donativos. Assim, por que será que o Estado não privilegia a educação, tanto no sentido formativo das famílias quanto no de aumentar a sua escolaridade? Da mesma forma, ele não deveria questionar seu modelo de investimento nas famílias de baixa renda? Por outro lado, mesmo que haja investimentos significativos em educação, se não forem dadas condições de segurança e autoridade efetivas aos professores, ela fica muito prejudicada. Será que não percebem que estes devem transmitir sua força psíquica e ética para, com firmeza, tranquilizar boa parte das crianças e adolescentes em suas demandas desafiadores? Assim, o Estado tem que dar condições às escolas de controlar a disciplina e suas transgressões. O efeito disso, certamente, seria elevar a autoestima desses jovens e, assim, limitar sua agressividade, que não é nada mais nada menos que uma reação à condescendência.

*RITA FRANCI MENDONÇA é psicanalista

Fonte:Jornal Zero Hora(18/04/2010)

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