É sempre difícil respeitar o que não conhecemos. E quando tratamos do complexo mundo das crenças, experimentamos dificuldades de compreensão, entendimento e respeito às religiosidades alheias. Daí a importância do diálogo, pois é ele quem nos permite a troca, o conhecimento e o reconhecimento das vivências religiosas dos outros.
Nos comunicamos fazendo largo uso de conceitos. Estes são construídos a partir de nossos valores, referências e vivências, expressando assim o universo de nossos conhecimentos. Não raras vezes, nossos conceitos são preconceitos, porque carecem de conhecimento aprofundado sobre as realidades, vivências e práticas de religiosidade dos outros.
Padre Zezinho chegou a afirmar que a "religião é como a mãe. Se a gente tem uma, a gente não a troca por nenhuma outra. E se o outro tem uma e gosta dela, a gente aplaude. Pessoas bem educadas sabem conviver com a sua própria mãe e com a mãe dos outros". Sim, porque quando nos permitirmos conhecer as vivências e práticas religiosas dos outros, não estamos abrindo mão de nossa própria convicção ou crença. Do contrário, quanto mais conhecemos da religiosidade dos outros, maior discernimento e clareza teremos da nossa religião e da religião dos outros.
Dialogar, conhecer, estudar ou pesquisar o universo religioso é uma atividade fascinante e interessante e serve para, sobretudo, acabar com os fundamentalismos. Os fundamentalistas são aqueles que cultivam a idéia de que a sua religião ou forma de viver a religiosidade são as únicas certas e de que todas as demais formas têm de ser combatidas. Mas como diz Frei Betto, "Deus é amor. Para nos ensinar a amar, Ele inspirou o aparecimento das religiões. Deus mesmo não tem religião, mas pode ser encontrado através de todas elas".
Em nome das religiões não se justificam guerras e conflitos, porque todas elas ensinam o Amor como valor maior da convivência humana. Em nome das religiões cabem atitudes de respeito, consideração, diálogo e paz. As religiões são caminhos que nos levam ao mesmo fim. Por que então brigar?
As aulas do ensino religioso são excelentes oportunidades para colaborar com uma cultura de amor e respeito à religião de cada um, mas também de criar espaços de conhecimento e reconhecimento das religiões dos outros. Conhecido de muitos, Mahatma Gandhi, líder religioso e político do seu povo hindú, na Índia, pagou com a vida por acreditar nisso. Foi assassinado por um irmão de crença que não aceitou o diálogo com irmãos de outras religiões para encaminhar as soluções políticas para a Índia, à época. Gandhi, seguido por Martin Luther King, propôs a prática da não-violência como forma de exigir direitos.
A cultura brasileira resulta de uma complexa miscigenação (mistura de raças, culturas e credos). Por isso mesmo, ainda que de forma velada, temos dificuldades de respeitar a cultura e a crença de nossos irmãos índios e negros. Como não conhecemos as suas práticas e vivências religiosas, produzimos ainda muito preconceito e discriminação.
O Transcendente (Deus, Jeová, Tupã, Maomé, Jesus, Oxalá e tantos mais) é sempre maior do que nossas vaidades. E se conceituar é "dizer o que as coisas são", tenhamos cautela ao desferir as palavras. Não as usemos para condenar, rotular e ofender, pois isto não colabora nem para com o ser humano e nem para com Deus.
*Nei Alberto Pies, professor e militante de direitos humanos
Nenhum comentário:
Postar um comentário