*Verus philosophus est amator Dei - Santo Agostinho

sábado, 22 de maio de 2010

EJA como válvula de escape

As salas da educação de jovens e adultos não foram criadas para adolescentes. Mas, em Joinville, 19% das pessoas entre 15 e 17 anos largaram o ensino regular e retomaram às aulas voltadas aos mais velhos. Por quê? Arranjaram emprego ou repetiram o ano

Um garoto e uma garota de 16 anos de Joinville têm planos bem parecidos: terminar os estudos e procurar uma chance no mercado de trabalho. Um colega deles, de 15 anos, também não vê a hora de sair da escola e conquistar a independência. Além do desejo de entrar na vida adulta com estabilidade, os três têm outra característica em comum: todos recorreram à Educação de Jovens e Adultos (EJA) para atingir a meta.

E eles não são os únicos adolescentes com esse perfil. Em Joinville, 19,26% dos jovens entre 15 e 17 anos abandonaram o ensino médio regular e passaram a ocupar os bancos da EJA em 2008. Dos mais de 27 mil alunos nessa faixa etária matriculados na zona urbana, 5.356 frequentam as aulas noturnas em alguma das três modalidades oferecidas na rede pública: modular, telessala ou presencial.

O índice é considerado alto, levando em conta que os jovens com esse perfil poderiam – e deveriam – frequentar o ensino regular. As causas geralmente estão atreladas à necessidade de inserção no mercado de trabalho e ao mau rendimento escolar. Muitos deles abandonam o ensino fundamental porque reprovaram e são muito mais velhos do que os colegas. A opção, então, passa a ser o EJA.

O fenômeno é conhecido como “juvenilização” e abre debate dos mais polêmicos na área da educação. “Os números não são assim somente em Joinville. É um dado nacional de um fenômeno que surgir no anos 80. O perfil das matrículas no EJA mudou”, aponta Maria Hermínia Laffin, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina.

Em alguns casos, de acordo com ela, a grande responsável por esse fenômeno é a própria escola. “A escola não compreende o jovem, não pensa em um currículo para ele. Por conta disso, às vezes, falta alternativa que não seja frequentar o EJA para concluir os estudos”. Segundo a professora, ainda assim não se pode qualificar o fenômeno como negativo. Ela acredita que, se não recorressem ao EJA, os adolescentes dificilmente concluiriam os estudos.

Em Joinville, o perfil dos jovens no EJA é bastante parecido: pararam de estudar porque precisavam trabalhar ou foram induzidos por conta do aproveitamento escolar. Os bairros com o maior índice de “juvenilização” têm características parecidas: em geral, são os de menor renda per capita e com grande população de jovens.

amanda.miranda@an.com.br

AMANDA MIRANDA

Fonte:Jornal A Notícia(23/05/2010)

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