*Verus philosophus est amator Dei - Santo Agostinho

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Primeira parte

Corre por aí a história de um senhor que, após ter "devorado" quase toda uma caixa de um quilo (!) de bombons de chocolate, vira-se para a esposa e diz: "Querida, tira esta caixa daqui. Estes bombons são meio enjoativos!"... Mas que danado, hein! Come dezenas de bombons para depois menosprezá-los! Histórias divertidas como essa nos trazem a compreensão de como a "compulsão nossa de cada dia" nos atinge, e como lidamos com ela.

Quem nunca se viu às voltas com a necessidade de controlar certos impulsos? Seja para comer, jogar, falar, comprar, e por aí vai a extensa lista de possibilidades de compulsão. O que as une é a presença do prazer no ato. Assim como a delícia dos bombons do personagem citado acima, que o fizeram comer até sentir enjoo, podemos encontrar em cada um desses atos compulsivos listados um prazer que, de certa forma, está presente e é facilmente identificável. O que complica aqui é a percepção de que muitas vezes não podemos identificar esse prazer - pelo menos não à primeira vista - numa série de compulsões que atingem um sem-número de pessoas e que as fazem ficar presas num ato repetitivo, aflitivo e muitas vezes sem nexo. Tal é a característica da compulsão que queremos abordar.

Pensamos no jovem que não consegue largar seu videogame, mesmo sabendo que há algo que ele deseja muito fazer, diferente daquele jogo! Ou daquela moça que não consegue parar de arrancar seus cabelos, mesmo percebendo que está ficando com áreas de alopecia em seu couro cabeludo. Ou mesmo aquela famosa primeira-dama filipina, cujos milhares de pares de sapatos adquiridos ao longo de uma vida mostravam um aspecto do consumismo que beira a loucura, não é mesmo? Compulsão traz, então, o sentido de compelir, daquilo que compele, que constrange.

Mas como se definiria psicanaliticamente a compulsão? Laplanche e Pontalis1 dizem que é um "tipo de comportamento que o indivíduo é levado a realizar por uma coação interna. Um pensamento (obsessão), uma ação, uma operação defensiva, mesmo uma seqüência complexa de comportamentos, são qualificados de compulsivos quando a sua não realização é sentida como tendo de acarretar um aumento de angústia."

E aqui temos a diferença em relação às situações comuns da vida: o compulsivo não consegue sair de sua roda-viva, de seu sintoma, porque isso acarretaria em um aumento de angústia para ele! É nesse viés que o trabalho psicanalítico se diferencia: enquanto não auxiliarmos o sujeito a encontrar outras formas de escoar seu excesso pulsional, a compulsão não se vai; ela fica ali a percorrer esses caminhos que se perpetuam!

(continua...)

Nenhum comentário: