*Verus philosophus est amator Dei - Santo Agostinho

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Vida pós-moderna

Algumas características da pós-modernidade, que ensejam patologias como as que pretendemos abordar, seriam instauradas pelo desamparo, a solidão e a falta de referências simbólicas aterradoras da contemporaneidade. Outro dia mesmo uma mãe nos contava sobre seu filho de 3 anos, que desde os 2 anos já sabia identificar uma série de marcas de automóveis. Sua observação era que a televisão o transformara de tal forma que, antes de falar uma série de palavras comuns aos bebês, ele já havia sido bombardeado com os anúncios veiculados na mídia, permitindo, assim, associar marcas aos produtos que via na rua. Bebês que não têm sua atenção estimulada vão facilmente se apegar ao que está à volta, sendo a televisão um dos objetos mais atraentes que o homem criou. O problema aqui é a falta de afeto, de apego, deixando o indivíduo isolado e só. Como nos diria Norberto Elias4, "O indi- vidualismo é uma ilusão que custa ao sujeito o esquecimento [recalque] não só de sua filiação, mas de sua pertinência a uma ou a várias comunidades, mais ou menos abstratas, de 'irmãos' que sofrem como ele, lutam como ele, sentem-se desamparados como ele."


Até mesmo sem fome, os compulsivos tendem a comer exageradamente, saciando seus desejos de prazer por meio da repetição

Assim, um sujeito só, abandonado e desamparado, vê-se facilmente convidado a cair na rede psíquica regida pela pulsão de morte. A esse empobrecimento nas relações afetivas corresponde uma busca de compensações por meio de uma avidez de ganhos, de bens de consumo, de sexualidade promíscua ou uso de drogas.

Se fôssemos descrever o sujeito contemporâneo que queremos abordar, teríamos de pensar em pessoas que não se lembram de seus sonhos, que não fazem lapsos e que não fantasiam. Muito diferente do sujeito freudiano, vemos pessoas que se questionam sobre o sentir, sobre o que são os sentimentos, como se só os outros tivessem sentimentos! Elas buscam o olhar do outro como que para provar a própria existência! Com isso, não só a imagem adquire uma relevância nunca dantes havida, mas também as patologias se revestem de características próprias, como o crescimento dos casos de bulimia e anorexia nos permite inferir.

(continua...)

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