É dentro desse espectro, de mudanças nas expressões sintomáticas, que entendemos como é importante estudarmos as compulsões. Precisamos refletir não só sobre as patologias que afligem os clientes que nos procuram, mas, principalmente, discutir a prática clínica que mais se adapta a eles. Pensamos que, com a enorme compressão do espaço- tempo que nos atinge na contemporaneidade, a possibilidade de encontrarmos espaço para o cuidado ao outro se estreita cada vez mais. Isso é particularmente patogênico no cuidado que as mães devem dar aos bebês, uma vez que a grande disponibilidade que o bebê exige de sua mãe sofre restrições de toda ordem. A uma mãe menos disponível, corresponde um bebê mais exposto ao desamparo; e isso ocorre em uma fase do desenvolvimento em que a experiência de desamparo está intimamente conectada à angústia de aniquilamento. O bebê, que se vê fraco diante das suas necessidades não atendidas, tende a viver essas faltas como uma descontinuidade do viver; algo como uma terrível vivência de horror sem que haja um psiquismo capaz de digerir convenientemente essas vivências. Decorre daí as falhas na constituição do ser, a tendência aos ataques de pânico e uma busca de cobrir essas vivências com toda a sorte de sintomas possível: sendo a compulsão uma dessas possibilidades. É nesse sentido que a compulsão se mantém: enquanto está concentrado no ato compulsivo, o indivíduo se protege de irrupções de angústia inomináveis e insuportáveis
Os psicanalistas creem que a melhor forma de lidar com esses sintomas seja, justamente, acompanhar o cliente de maneira a ajudá-lo a encontrar outras formas de manejo de seu desamparo e de sua angústia, diminuindo o excesso pulsional por meio do incremento de sua capacidade de pensar.
(*) Sérgio Nick é psiquiatra e psicanalista, atual secretário da federação Brasileira de Psicanálise (febrapsi), professor do curso introdutório de Teoria freudiana no instituto da sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (sBPRJ) e do curso "Desenvolvimento emocional da criança e do adolescente" da clínica social da sBPRJ.
2 comentários:
existe feudalismo na sociedade brasileira atual ?
Existe sim Camilly
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