A reflexão lembra um dizer antigo que afirma serem os inimigos os que provam a têmpera de nosso espírito; e que quem não os queira ter, melhor seria que não houvesse nascido.
O inimigo, em geral, é um bom companheiro que nos fará pensar na fórmula de nos libertarmos da tortura mental a que nos submetemos ao recordar o ingrato que imobiliza nossos sentimentos e endurece o nosso coração, pois a ingratidão é um veneno que age silenciosamente, eliminando as possibilidades de sermos felizes e livrarmo-nos das recordações sombrias que lesam a nossa sensibilidade; é uma das doenças das quais os seres humanos de hoje padecem; seus frutos são a depressão e o vazio. Esquece-se, com muita facilidade, das coisas boas que vão acontecendo no decorrer da vida: pequenos sucessos, singelas alegrias, emoções que colorem o dia-a-dia tanta vezes pálidos da existência humana. A simples recordação destes momentos poderia, qual condão mágico, transformar um momento de tristeza num de alegria.
Contra o rancor há que opor o bom sentir, a gratidão por tudo que nos proporcionou no passado alguma alegria, a inteligência na convivência, e, sobretudo, a esperança, o mágico sentimento que nos lançará para um futuro melhorado e mais feliz.
A gratidão consciente é uma vivência interior na qual, ao recordar quem nos fez um bem, rendemos-lhe uma homenagem silenciosa e experimentamos uma proximidade muito grande em relação ao nosso benfeitor, mesmo que ele não esteja mais vivendo entre nós. É um sentimento de imponderável valor, pois credencia o indivíduo para novas experiências felizes no futuro.
A gratidão, este sentir agradecido pelo que se viveu, esta revivescência sensível de um passado que não deve morrer nunca, é um sentimento mágico que cada ser humano tem o poder e o dever de cultivar em seu coração.
"Sentir é experimentar dentro de si uma outra realidade; seja ela um ser, um objeto ou um conhecimento", disse certa vez um sábio homem. Assim, um belo lugar fixa-se em nossa recordação; uma pessoa querida, uma lição instrutiva, o animalzinho da infância, um livro, o parente desaparecido.
Ao manter no presente aquilo que vivemos, experimentamos uma sensação de existir consciente que as palavras não têm possibilidade de traduzir.
(*) Engenheiro Civil e escritor com um livro publicado e centenas de artigos sobre literatura, logosofia, filosofia e desenvolvimento sustentável
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