Freud, desde o princípio, dizia que um dos objetivos da terapia psicanalítica era justamente ampliar as vias de facilitação. Ele queria tirar o neurótico de sua prisão, ampliando suas formas de expressão, aumentando sua gama de saídas ante a angústia. Onde havia apenas um caminho, Freud propunha que oferecêssemos a oportunidade de construção de novas vias. Em vez do insistir compulsivo ser em uma só descarga, buscar outras que aumente o arsenal expressivo do sujeito. Muito de sua metapsicologia foi dedicada à compreensão do psiquismo e das formas como ele se estrutura para dar vazão à pulsão.
Mas voltando ao estudo da compulsão, escolhemos o dizer de Lowenkron2, que informa que "as características da compulsão são, em suma, as seguintes: sua estranheza em relação aos comportamentos ou às ações habituais do sujeito: a tendência para a repetição; a convicção de um desfecho desastroso se ela não for levada em conta, e a promessa de um alívio real se lhe for permitido o livre curso; (e) certa antinomia com os interesses do Eu." Achamos importante destacar esse último aspecto: na medida em que a saída compulsiva não se coaduna de todo com os objetivos do Eu, ela é vivida como um corpo estranho, algo a ser eliminado que o sujeito não consegue alterar.
Compulsão traz, então, o sentido de compelir, daquilo que compele, que constrange
Estudos indicam que muitos jovens confundem vício em vídeogame por compulsão. Para este diagnóstico é necessário que haja um prazer desmedido, um ato cíclico e aflitivo |
Temos hoje uma grande batalha pela frente. O número de compulsões aumenta na esteira da forma como somos instados a viver. Como nos informa Dufour: o capitalismo avançado nos compele ao desapego, à falta de laços fraternos, ao descompromisso. A tal dama filipina mostra ser o ideal que o sistema capitalista aspira, ou seja, um sujeito sem um apego outro que o consumo pelo consumo: acrítico, compulsivo. Ao sujeito neurótico freudiano do século passado, surge agora a demanda pelo sujeito borderline: "Com efeito, é preciso que os fluxos de mercadoria circulem, e eles circulam ainda melhor porque o velho sujeito freudiano, com suas neuroses e suas falhas nas identificações que não param de cristalizar-se em formas rígidas antiprodutivas, será substituído por um ser aberto a todas as conexões. Em suma, levanto a hipótese de que esse novo estado do capitalismo é o melhor produtor do sujeito esquizoide da pós-modernidade. No entanto, ele não é o sujeito neurótico preso numa culpabilidade compulsiva, mas, sim, um sujeito precário, acrítico e psicotizante, aberto a todas as flutuações identitárias e, consequentemente, pronto para todas as conexões mercadológicas.
(continua...)
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