*Verus philosophus est amator Dei - Santo Agostinho

sábado, 7 de agosto de 2010

Lobos e cordeiros,por Diego Calegari*

Somos uma sociedade de anestesiados políticos. Certa vez, tive oportunidade de participar, a convite de um amigo, de um evento de certa juventude partidária, à qual não sou vinculado. Qual foi minha surpresa quando entra no recinto um grupo de crianças e adolescentes, na faixa etária de oito a 15 anos, fazendo algazarra com tambores e batuques? Minha curiosidade foi imediatamente despertada, bem como minha desconfiança: o que faz um grupo de jovens tão jovens viajar até aqui, em um evento partidário, em uma época em que o jovem vive sua fase de mais violento antagonismo com relação à política?

Não perdi tempo. Fui a uma dupla de rapazes que ali estava e questionei o porquê da sua vinda ao evento. “Viemos apoiar o ‘fulano’”. “Fulano” era candidato à diretoria da juventude do partido. “Ah é?”, disse eu, desavisado: “E por qual motivo?”. Meio constrangidos, os garotos se olharam e um deles respondeu: “Na verdade, nem sabemos quem ele é. Nossa professora que nos trouxe até aqui e mandou que fizéssemos barulho quando ele subisse no palco”.

A despeito da tenra idade dos envolvidos e da particularidade da cena relatada, ela retrata bem a situação da política no Brasil, vivida entre “cidadãos” adultos e conscientes. Quantos são os eleitores que procuram conhecer o histórico, o perfil e as propostas dos candidatos que escolhem? Qual a parcela populacional que sequer sabe diferenciar Poder Executivo de Poder Legislativo, e depurar do discurso dos candidatos as promessas absurdas sobre coisas que nem lhes compete fazer?

Façamos um teste: você se lembra em quem votou para deputado federal na última eleição? Não? Parabéns. Segundo pesquisa publicada pela Fundação Getúlio Vargas e realizada pelo cientista político Alberto Carlos Almeida, em 2006, você está em entre a maioria esmagadora (71%) dos eleitores que não se recordam em quem votou para deputado federal na última eleição.

Somos uma sociedade de anestesiados políticos. Como cordeiros, estamos sendo conduzidos cegamente em direção a um destino incerto, sujeitos à vontade dos pastores que nos guiam. A diferença entre os cordeiros e nós é que, enquanto eles são conduzidos por homens de boa-fé, nós somos guiados em grande medida por lobos sarnentos, salivantes e astutos.

calegari.adm@gmail.com

*DIEGO CALEGARI, PROFESSOR E CONSULTOR EM GESTÃO EMPRESARIAL

Fonte:Jornal A Notícia(07/08/2010)

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