Quem mora em Joinville desde 1970, sabe que esta quadruplicou sua população no lapso de tempo entre este ano e hoje. Neste período vimos o crescimento andar par a par com a ampliação do perímetro urbano. Quem não se lembra da campanha do Seu Freitag, no seu primeiro governo, pedindo para as pessoas não comprarem terreno em área irregular. Naquele momento começou-se a tentar resolver o assunto. A prefeitura passou a controlar os loteamentos. A cidade não parava de crescer e precisava de lotes residenciais e dai surgiram diversas imobiliárias. Implantar loteamentos sempre foi um bom negócio e para sê-lo é óbvio que dê lucro ao investidor. No começo era abrir ruas, colocar tubulação para água, postes com fiação elétrica e fazer valas de esgoto a céu aberto. Depois a prefeitura foi apertando. Passou a definir as áreas que lhe eram de direito a serem doadas por lei. Ruas ensaibradas. Valas com tubulações. Postes com luminárias. Apareceram os primeiros loteamentos asfaltados. A prefeitura evoluía, apertava e os empresários das imobiliárias iam respondendo, melhorando seus empreendimentos, a qualidade para quem adquiria os lotes e diminuindo os gastos públicos futuros. Muitos passaram a fazer seus empreendimentos em Araquari, com o intuito de “bairros dormitórios” nas cercanias de Joinville. A cidade vizinha não tinha as mesmas exigências nas benfeitorias, assim os lotes podiam ser vendidos mais baratos. Depois sabemos o que aconteceu, devido a pressão por falta de ônibus e outros equipamentos urbanos, já que é uma falácia “bairros dormitórios”, pois os que saem para trabalhar deixam em casa: esposas, filhos e pais idosos que precisam dos serviços oferecidos pela cidade em seus equipamentos urbanos comunitários. Joinville acabou absorvendo aquelas áreas e seus problemas, assim como fez com o Jardim Paraíso, bairro de grandes dimensões que pertencia a São Francisco Sul, projetado em terras de baixo valor, já que estavam no outro lado da Baía da Babitonga e não tinha ligação com a sede e, por isto, não recebiam as benfeitorias necessárias para a população.
Voltando ao óbvio. Para poder crescer e lotear áreas, na maioria, rurais, estas têm que ser transformadas em urbanas, por lei. Então o caminho dos empreendedores é alterar a lei que define o perímetro urbano. Assim surgiram os grandes loteamentos. E isto não funciona assim só aqui. Funciona no mundo, principalmente depois da revolução industrial. As áreas centrais encarecem e o povo se desloca para a periferia.
Coluna do Saavedra (31/07): “Nova cidade. No meio à reunião que confirmou a Curva do Arroz como local do futuro campus da UFSC, o prefeito Carlito Merss revelou um investimento audacioso em estudo em Joinville: a construção de praticamente uma nova cidade na zona Sul. Um grupo estaria interessado em construir milhares de moradias, com praças, centro administrativo, postos de saúde, entre outros equipamentos de uso público. (....). O grupo (...) ofereceu parte do terreno para a Prefeitura de Joinville ceder para a UFSC. A Federal teria direito a um milhão de m2. (....) O prefeito Carlito lembrou que o terreno reservado para a “nova cidade” é rural e precisaria de mudanças na lei para receber o empreendimento.”
Meu filho me diz: deixa isso pra lá e cuida da tua vida. Acha que estou ficando velho e ranzinza. Começo a acreditar que ele tem razão. Mas enquanto ele não me manda para um asilo, não posso me calar e nem deixar de indagar. Onde será a UFSC não era rural e não teve que ter lei alterando o uso?
Sinceramente, não posso entender como a municipalidade perde uma oportunidade destas. Será que eles não sabem que daqui a pouco tempo (desde que Joinville continue crescendo e entendo que vai) será feito uma lei para ampliar o perímetro urbano para aquele local e a empreendedora vai lotear sem doar nada ao município, a não ser o que preconiza a lei para os loteamentos? Perde-se a grande chance de ter um bairro estruturado. “Coisa de primeiro mundo” como diriam os neoliberais. Ruas asfaltadas e sinalizadas, passeios pavimentados, com indicações para deficientes visuais e rampas nas esquinas para cadeirantes, árvores “sem raízes”, bancos e bebedouros, praças, PA 24h e tudo o mais que faz o bem-estar da cidade. E com uma universidade, ou mais um pólo universitário, se a PUC também fosse pra lá. Já tem o pólo universitário da zona norte e teria, também, o da zona sul. Se formos a Palhoça, para não ir longe, e olharmos o que a UNISUL fez com o loteamento “Pedras Grandes”, teremos a noção da vantagem que seria transformar esta área em urbana. Um bairro decente, bancado pelo empreendedor e por quem fosse morar lá. Nada mais justo. Será que o problema é que os empreendedores teriam lucro? É óbvio ululante que deveriam ter! Isto não é coisa de ideologia política. É urbanização. É ordenamento territorial. Ganha quem empreende e ganha a cidade! Pois afirmo: Os empreendedores terão lucro de qualquer maneira e sem dar nada (aliás, a cidade vai ter que bancar como nos outros loteamentos: saneamento, árvores, asfalto e os equipamentos urbanos comunitários).
No meu entender e sem querer pra mim a síndrome do galo: “que pensa que o sol nasce só depois que ele canta”, transformar esta zona rural, oferecida com toda a infra-estrutura, em urbana, seria muito mais lógico do que gerenciar brejo, barulho de trem e da BR, fios de alta tensão e, pior, a formação de uma nova cidade que nascerá no entorno da UFSC e que terá, daí sim, a infra-estrutura paga pelo poder público, ou seja, por todos os moradores da cidade e não só por quem vai se beneficiar daquele espaço.
O doído, o difícil, não é engolir este tipo de despautério. É ficar imaginando o que há por trás disto.
Anselmo Fábio de Moraes