*Verus philosophus est amator Dei - Santo Agostinho

sexta-feira, 26 de março de 2010

Belo texto leia sem pressa,vale a pela...Ok!!!

A Tolerância


Giordano Bruno - o pensador italiano que foi queimado vivo na Idade Média por ter defendido a idéia da infinitude do Universo e de sua transformação contínua - é um exemplo eloquente do obscurantismo e da intolerância daquela época quando todos deveriam prestar aceitação cega às “verdades” estabelecidas.Algum tempo depois, Galileo Galilei (1564 - 1642) teve de abjurar para não ter o trágico fim do compatriota. Ele defendia a idéia, absurda para a época, de que a Terra não era o centro do Universo. Embora tendo escapado à morte, teve de conviver com uma prisão domiciliar até o final de seus dias. Spinoza, como Sócrates, foi condenado pelo poder político local por opõr-se às idéias dos dirigentes, por não cultuar as suas personalidades e nem as divindades do Estado, por afirmar que a verdadeira salvação consistiria no conhecimento que é oposto ao fenomênico e sobrenatural que forjam as bases do ateísmo. Para ele, não poderia haver um Deus ou um conhecimento propriedade de algum agrupamento, porque Deus e o conhecimento não são contingentes e nem privilégio de ninguém, por serem imanentes. Estas páginas trágicas de nossa história servem para uma reflexão sobre a intolerância humana e suas conseqüências no nosso dia-a-dia, pois ela continua tão presente como naqueles negros dias medievais. Dentre os defeitos do ser humano, a intolerância é o que mais dificulta a convivência. E esta dificuldade é um grande obstáculo para a evolução do homem que necessitará do concurso de seu semelhante na jornada de aperfeiçoamento que deverá empreender durante a sua vida; se não sabe conviver, terá a sua evolução limitada. A intolerância implica falta de respeito às idéias alheias, inflexibilidade, dureza de juízo.

É difícil aceitar as idéias de outras pessoas quando não coincidem com as nossas; isto porque fomos educados nesta rigidez comportamental que nos impede compreender que podem existir idéias que difiram das nossas e os que as defendam não são nossos inimigos.A intolerância leva o ser humano a não admitir oposição. O intolerante vê no opositor um inimigo sem aperceber-se que a oposição pode ser construtiva, pois nos faz pensar, refletir sobre nossos pontos de vista e concluir, algumas vezes, que podemos estar errados. Os ditadores não admitem oposição. O opositor deve ser afastado, eliminado; só assim o ditador sente-se confortável.Os que impõem, os impostores, estão aí, como naqueles negros dias medievais; nos governos, empresas e instituições diversas; nas mentes dos seres humanos, pensamentos retrógrados que as encarceram numa rigidez milenar e que têm afastado o ser humano de si mesmo e de seus semelhantes. Surpreender esta realidade em si mesmo, na própria mente, e trabalhar para eliminar este pensamento é o único caminho capaz de livrar-se deste obscurantismo medieval.Educar as crianças no sentido da flexibilidade psicológica, desde que as idéias antagônicas não firam os princípios básicos da harmônica convivência humana, significa incutir no educando a tolerância que lhe permitirá respeitar o seu semelhante e ser respeitado.A tolerância tem sua aplicabilidade dentro de limites bem definidos. Sua ausência implica falta de sentimentos, solidariedade e compreensão; o excesso, em ingenuidade. Ela não pode significar fraqueza nem passividade. Tolerar é compreender, aceitar opiniões divergentes, pois cada uma é fruto de um juízo pessoal.

A intolerância é própria do despotismo – a ditadura pela força – e do totalitarismo – a ditadura pela ideologia -, estes sim intoleráveis.A verdade não se impõe. Ela se mostra como um resultado para quem dela se aproximou pelo esforço, estudo, observação e uma grande esperança aninhada no coração.Cada pequeno conhecimento é um fragmento de verdade que unido a outros vai dando o sentido da realidade. A tolerância é conhecimento, virtude, pensamento, escudo protetor, chave mágica para a inteligência que pode ser conquistada através do esforço diário por compreender e aceitar opiniões divergentes que podem se conciliar.

Nagib Anderáos Neto
neto.nagib@gmail.com

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