Nasci em Joinville, mas não na época em que o rio Cachoeira ainda permitia tomar banho. Peguei a fase em que o joinvilense se orgulhava de ver o rio ora verde, ora vermelho, ora amarelo. A tinta no rio, garganteavam os deslumbrados joinvilenses dos "bons tempos" do estilingue e da espingardinha de pressão, significava progresso, empregos, impostos recolhidos...
O rio Cachoeira de uma certa época tinha estaleiros, equipes que treinavam remo, lanchas de recreio rebocando esquis aquáticos e servia como via de transporte. Gerava empregos. Conheci alguns construtores de barcos e vi alguns caboclos trazendo pescadinha e camarão para o Mercado Municipal. Devo ter conhecido os últimos. Se alguém conheceu os penúltimos, que nos conte como eram.
Já o rio Cachoeira de outra época virou um esgoto a céu aberto. O xixi ainda vai; o xixi é dissolvível, degradável. Astronautas na ISS bebem xixi - reciclado, mas xixi. O cocô não é nada. Também dissolve, tudo vira humus. Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo vira bosta. E bosta não faz mal. Se fizesse, estaríamos mortos neste montão de bosta que geramos todos os dias.
A época que destruiu o rio Cachoeira foi aquela em que se jogou tinta nele. Tinta, cromo, mercúrio, sofá velho, pneu e camisinha. E esta época não tem uma data como nos livros de História. As datas são feitas para cair nas provas. As provas são feitas para dizer à sociedade que as crianças aprenderam alguma coisa e já podem ir brincar com suas espingardas de pressão e seus estilingues e seus motores a quatro tempos de todos os tempos. A época que destruiu o Cachoeira começou ao lado do primeiro imigrante que, desembarcando da canoa que o trouxe de São Francisco, fez xixi na margem do ribeirão Mathias, aquele mesmo que hoje é um esgoto coberto com umqa laje, ali ao lado daquela praça que "remodelaram" outro dia e foi inaugurada com discurso do prefeito. Ao lado do alemão que fez o primeiro xixi no Mathias tinha outro já pensando em como fazer um cocho para lavar roupas. E o grande sabão em pó da história veio enchendo o rio de espuma, uma espuma tão densa que impediu de ver qualquer coisa que não fosse a roupa limpa e engomada de uma sociedade bonita, próspera, educada, mas que criou um rio podre bem no meio dela.
Vem prefeito, vai prefeito... A hipocrisia de sempre, a preguiça política de sempre, o rio vai ficando mais podre e o povo vai ficando mais distante da realidade estética de um rio navegável, banhável, potável. O "pogrécio" é uma droga que vai escravizando a massa, analfabeta política e ignorante de estética. Chego a pensar que a Joinville senhora feudal não teve nenhum cuidado com o Cachoeira porque preferia ter o que contar de bom e de chique quando voltasse das férias no exterior (visitar a ômama na Alemanha foi sempre tão gostoso...) e assim continuar representando, diante da vassalagem local, alguma coisa próxima de uma vanguarda - ou apenas uma coisa qualquer mais "chique" do que ser operário da Tupy.
E o rio podre tem assim um jeitão de troféu. É o sangue derramado, o orgulho cívico obscurantista de um modelo degradador. De certa forma ele é um coitado pendurado numa cruz para pagar nossos pecados - o maior deles a gula e o segundo o carro novo. Ele não foi apodrecido pela incultura da elite, ele apodreceu porque a sofrida elite precisava dar empregos aos queridos, amados... operários. Tudo pelo "pogrécio"!
Vem prefeito, vai prefeito, e a coisa não muda.
O rio Cachoeira de uma certa época tinha estaleiros, equipes que treinavam remo, lanchas de recreio rebocando esquis aquáticos e servia como via de transporte. Gerava empregos. Conheci alguns construtores de barcos e vi alguns caboclos trazendo pescadinha e camarão para o Mercado Municipal. Devo ter conhecido os últimos. Se alguém conheceu os penúltimos, que nos conte como eram.
Já o rio Cachoeira de outra época virou um esgoto a céu aberto. O xixi ainda vai; o xixi é dissolvível, degradável. Astronautas na ISS bebem xixi - reciclado, mas xixi. O cocô não é nada. Também dissolve, tudo vira humus. Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo vira bosta. E bosta não faz mal. Se fizesse, estaríamos mortos neste montão de bosta que geramos todos os dias.
A época que destruiu o rio Cachoeira foi aquela em que se jogou tinta nele. Tinta, cromo, mercúrio, sofá velho, pneu e camisinha. E esta época não tem uma data como nos livros de História. As datas são feitas para cair nas provas. As provas são feitas para dizer à sociedade que as crianças aprenderam alguma coisa e já podem ir brincar com suas espingardas de pressão e seus estilingues e seus motores a quatro tempos de todos os tempos. A época que destruiu o Cachoeira começou ao lado do primeiro imigrante que, desembarcando da canoa que o trouxe de São Francisco, fez xixi na margem do ribeirão Mathias, aquele mesmo que hoje é um esgoto coberto com umqa laje, ali ao lado daquela praça que "remodelaram" outro dia e foi inaugurada com discurso do prefeito. Ao lado do alemão que fez o primeiro xixi no Mathias tinha outro já pensando em como fazer um cocho para lavar roupas. E o grande sabão em pó da história veio enchendo o rio de espuma, uma espuma tão densa que impediu de ver qualquer coisa que não fosse a roupa limpa e engomada de uma sociedade bonita, próspera, educada, mas que criou um rio podre bem no meio dela.
Vem prefeito, vai prefeito... A hipocrisia de sempre, a preguiça política de sempre, o rio vai ficando mais podre e o povo vai ficando mais distante da realidade estética de um rio navegável, banhável, potável. O "pogrécio" é uma droga que vai escravizando a massa, analfabeta política e ignorante de estética. Chego a pensar que a Joinville senhora feudal não teve nenhum cuidado com o Cachoeira porque preferia ter o que contar de bom e de chique quando voltasse das férias no exterior (visitar a ômama na Alemanha foi sempre tão gostoso...) e assim continuar representando, diante da vassalagem local, alguma coisa próxima de uma vanguarda - ou apenas uma coisa qualquer mais "chique" do que ser operário da Tupy.
E o rio podre tem assim um jeitão de troféu. É o sangue derramado, o orgulho cívico obscurantista de um modelo degradador. De certa forma ele é um coitado pendurado numa cruz para pagar nossos pecados - o maior deles a gula e o segundo o carro novo. Ele não foi apodrecido pela incultura da elite, ele apodreceu porque a sofrida elite precisava dar empregos aos queridos, amados... operários. Tudo pelo "pogrécio"!
Vem prefeito, vai prefeito, e a coisa não muda.
Um comentário:
Concordo em termos,mas você há de convir comigo que não é 1 cocozinho,1 xixizinho que cai nesse rio todos os dias.Leia o comentário que fiz na sua matéria sobra"vão limpar o rio Cachoeira".Todos que deveriam agir estão de braços cruzados.O importante é que pagamos as taxas,o resto é resto,infelizmente.Mas é verdade que só falta vontade política,pois rios muito piores que o nosso já foram salvos aí por esse mundo de meu Deus.Só aqui as coisas não acontecem...
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