*Verus philosophus est amator Dei - Santo Agostinho

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Alguém se lembra??? por Milton Wendel

Há cinco anos, nestes primeiros dias de abril, o astronauta brasileiro Marcos Pontes estava a bordo da Estação Espacial Internacional. Aqui na Terra, mais exatamente a leste de Tordesilhas, havia gente rosnando e latindo - e cachorros curiosamente argumentando - contra o que se dizia ser um gasto absurdo "só para plantar uma ridícula semente de feijão".

Chegaram a escrever coisas assim: "...do ponto de vista da ciência, os resultados foram simplesmente ridículos. Seu grande experimento foi plantar feijão no espaço, num recipiente com algodão como fazem as crianças do pré primário."

Havia reitores dizendo isso...

Gostaria de saber o que há de ridículo numa experiência que crianças de pré-primário fazem com curiosidade e interesse. Gostaria de ouvir um reitor de universidade pública brasileira, capitão hereditário de uma cadeira no CNPq, o argumento que demonstra ser ridículo despertar o espírito científico.

Realmente, uma das SETE experiências que Marcos Pontes fez, a bordo da ISS, foi a observação do desenvolvimento de feijão em condições excepcionais de atmosfera e gravidade. Não é uma experiência nova. Ela é refeita todos os anos em todas as escolas básicas pelas crianças que estão começando a desenvolver o espírito científico, na matéria de Ciências. O que há de mal em refazê-la no espaço? Por que o Brasil desdenha o ensino fundamental?

No caso da Missão Centenário, a experiência foi encomendada pela REDE PÚBLICA DE ENSINO FUNDAMENTAL do Município de São José dos Campos, São Paulo, cidade pólo latino americana em tecnologia aeroespacial, sede da EMBRAER, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica e de dezenas de indústrias fornecedoras de componentes de alta tecnologia, celeiro das exportações brasileiras com alto valor agregado. Um oásis no Brasil cuja pauta de exportações está sendo reduzida a soja em grão, minério de ferro e fumo em folha.

As nações que dominam tecnologia aeroespacial, todas, já fizeram a experiência da germinação do feijão no espaço. A ISS é a mais complexa e adiantada obra de engenharia já construída pelo homem. Ela já tem a massa de dois Boeing 747 e as dimensões de um campo de futebol. Ela já custou mais de 100 bilhões de dólares. E custou vidas; uma delas a da professora de ensino fundamental Christa McAuliffe, que iria das aulas a partir do espaço e que estava a bordo da Chalenger naquele maldito dia 28 de janeiro de 1986.

Será que algum dos nossos políticos, co-autor deste desastre educacional e deste mar de corrupção que temos no Brasil, dirá que é "ridícula" a idéia de mandar uma professora fundamental ao espaço? E nas origens deste grande projeto multi nacional e multidisciplinar, nas estações Salyut, Skylab e Mir, a experiência da germinação do feijão foi feita, sempre. Por que? Porque é a primeira pergunta que a biologia faz à tecnologia e é por aí que surge o espírito investigativo que leva à ciência.


Quem cuidou da experiência executada por Marcos Pontes, a experiência que no Brasil foi chamada de "ridícula" foi o pessoal da RKK Energia, empresa russo-ucraniana que há décadas se dedica a atividade aeroespacial. Eles colocaram o primeiro ser humano em órbita, eles chegaram com um rover na Lua e trouxeram areia lunar antes dos americanos, eles já penetraram na atmosfera de Vênus, eles mandam na logística orbital porque eles sabem fabricar naves espaciais e os foguetes que lançam estas naves no espaço. Eles colocam em órbita redes de satélites sem os quais não há GPS, nem meteorologia, nem defesa - e eles prezam a experiência da germinação do feijão.

Talvez por estas coisas os ucranianos e russos exportem tecnologia aeroespacial e o Brasil só exporta carne de porco, soja em grão, minério de ferro e folha de fumo... Aliás, o Brasil também exporta um pouco de tecnologia: os aviões da Embraer - quarto item da pauta de exportações brasileiras com cerca de 4 bilhões de dólares de receita anual. Embraer que, aliás é da comunidade de São Jose dos Campos, uma comunidade tão adiantada, em termos de Brasil, que até já proporcionou às suas crianças fazerem a experiência de germinação do feijão no espaço.

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