Retirado do blog do jornalista Luis Nassif (04/05/2013)
O texto é de autoria de Luis Claudio Tonchis
O desinteresse dos alunos pelos estudos, aumento
dos casos de indisciplina, violência e atos infracionais nas escolas
preocupam os educadores. Além dos baixos salários e as más condições de
trabalho, são as principais causas geradoras de angústia, insatisfação,
medo, desestimulando-os ao exercício da profissão. Frase como, por
exemplo: “os jovens de hoje não tem limites”, “não querem saber de
nada”, “não estudam”, “são apáticos”, “sem educação”, tornaram-se comum.
As escolas públicas são muito mais vulneráveis a esses problemas pelas
suas características: plural, universalizada, composta por uma clientela
heterogênea quanto à condição econômica, social e cultural.
A educação básica na escola pública vai mal. As
universidades reclamam, dizem que os alunos que chegam as universidades
tem informação, mas são incapazes de compreendê-las. De que será a
culpa? Da escola? Dos educadores? Do Estado? Dos Jovens? A racionalidade
nos indica que a culpa não é dos nossos jovens, afinal, eles não
nasceram prontos, foram produzidos assim na configuração política e
social em voga. Sabemos que desde que o “mundo é mundo” os jovens sempre
manifestaram certa rebeldia. O que mudou foi à configuração da
rebeldia. A indisciplina e a violência revelam-se cada vez mais cruel e
perversa.
A indisciplina e a violência na escola é a
reprodução da violência que ocorrem na sociedade. A escola não é
desconectada da sociedade, faz parte dela. As condições políticas e
sociais do país, má distribuição de renda, impunidade, corrupção, baixa
escolaridade e de renda da maior parte da população são exemplos de
problemas sociais que refletem na escola. Além disso, as mudanças
sociais contemporâneas ocorridas no modelo de família refletem na
formação dos jovens. Atualmente os pais necessitam trabalhar, as
crianças e adolescentes tem ficado cada vez mais aos cuidados de
terceiros ou sós, numa fase da vida tão importante para a educação de
valores indispensáveis à boa convivência humana. O pior é que, muitas
vezes, a família não é referência. Esses problemas se agravam nas
famílias de baixa renda, eles não podem pagar uma cuidadora capacitada
ou colocar numa escola infantil de qualidade. Faltam vagas nas creches e
de projetos alternativos que acolham essas crianças e adolescentes
enquanto os pais trabalham.
Pois bem, esses jovens indisciplinados e violentos
estão nas escolas, não é a maioria, mas são muitos. Não estão lá para
estudar, estão ali porque a escola é um ambiente social deles ou porque
são obrigados. No final dos anos finais do ensino fundamental e no
ensino médio os problemas se agravam. Aumentam à falta de respeito,
alunos se recusam a fazer atividades e estudarem, atrapalham as aulas,
brigas, xingamentos, palavrões, depredação do patrimônio público,
bulling e ameaças são exemplos de ocorrências diárias no cotidiano das
escolas. A figura do professor, que antes, e não faz muito tempo assim,
talvez uns vinte ou trinta anos atrás, tinha a função de professar o
conhecimento, hoje não é, mas assim. Hoje, ele tem que mediar conflitos,
chamar atenção dos alunos, enfim, tentar primeiro manter a ordem para
que a sala de aula tenha condições de fazer o que ele fazia antigamente.
A questão é que manter a ordem da sala está cada
vez mais difícil, os professore não obtém êxito. É humilhado, ameaçado e
ofendido com palavrões. O bom aluno que tentar defender o professor e a
ordem, também é ameaçado. Outros, menos violentos quando é chamado
atenção, olham para o professor com “cara” de deboche e respondem: “tô
suave”; “não dá nada não professora”. Ah! Vai me mandar para a
diretoria? Vai chamar meus pais? Conselho Tutelar? Boletim de
Ocorrência? Fica a vontade “fessora”. “Não dá nada não”. Suspensão? Que
bom vou ficar uns dias em casa e ficar mais na internet, “na brisa”,
vou curtir.
Os educadores trabalham em situações extremas de
nervosismo, medo e angústia. Preparam aulas maravilhosas e não conseguem
colocar em prática. Não é possível produzir se o ambiente e as
condições não são favoráveis, o resultado é a baixa qualidade do ensino e
não está pior porque muitos não desistem. A maioria é consciente de
suas responsabilidades: transformar vidas, mudar a realidade caótica de
muitas crianças e adolescentes, prepara-los para serem cidadãos
críticos, conscientes, responsáveis e com uma formação moral e ética por
uma sociedade melhor. O paradoxo é que eles são responsabilizados pelo
fracasso e o insucesso escolar. Angústia dupla. Na hora de receber o
salário, outra angústia.
Jovens, educadores e pais são vitimas do modelo
educacional político social e histórico. A melhoria da qualidade da
educação acontecerá na medida em que o país melhore a qualidade de vida
da sua população, valorize a nossa cultura e desvincule do modelo de
práticas curriculares eurocentrista, uniformizadora e colonizadora. Por
enquanto, qualquer intervenção nas escolas é apenas um paliativo e isso
não dispensa qualquer ação dos sistemas de ensino. Por exemplo,
capacitar os educadores é muito importante, mas hoje não é esse o
principal problema. O maior problema é tê-los. Ninguém quer ser
professor com o salário que ganha e com as condições de trabalho vigente
e se nada for feito a educação brasileira travará em breve.
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