Às vezes me dá vontade de sair por aí com um megafone gritando pelas esquinas:
— Saia dessa, "camarada", não tem desculpa, você está numa pior porque quer, saia dessa, caia na realidade!
Esse grito vale para todos, todos os desculpistas, vale para os "camaradas" que vivem procurando desculpas para justificar o seu fracasso existencial.
Dia destes, acho que foi no 7 de Setembro, uns "camaradas" andaram desfilando pelo Brasil um tal de Grito dos Excluídos. Excluídos do quê? Olhe, "camarada", nem no tempo do governo militar, que muitos chamaram de ditadura, nem naquele tempo quem quer que seja foi proibido de entrar numa livraria ou de matricular-se numa escola, pública ou privada.
Ninguém foi, ou tem sido, proibido de trabalhar, de produzir ganhos e de viver com decência, sem "bolsas" esmoleiras de nenhum tipo...
Ninguém no Brasil é proibido de ir e vir, de estudar, de trabalhar, de abrir uma empresa, de prestar um serviço, de ser, enfim, o que quiser. Então, que conversa é essa de "excluídos"? Excluídos do que mesmo? Da vergonha?
Quando falo para os jovens nas escolas — e para outras pessoas de todas as cidades do Estado — costumo dizer que não me venham com desculpas para justificar o atraso pessoal, o fracasso existencial.
Sem essa de que minha cidade é pequena. Pequeno é quem pensa assim. Sem essa de que meus pais são pobres, agricultores analfabetos, sem essa de que estudei pouco ou estudo em colégio público, sem essas. Diante disso, sou obrigado a perguntar:
— Sim, e daí, o que queres dizer com isso?
É muito fácil sentar-se na calçada e soluçar desculpas, sentir-se um excluído, um pobre coitado desprovido das bênçãos da fada madrinha; sem essa, isso é coisa de gente fraca.
E seja qual for a dificuldade por que esteja eventualmente passando o "camarada", isso não passa de uma crise. E crises são inerentes à condição humana, ninguém vive sem crise, ninguém cresce sem crises.
Se o "camarada" duvidar que pegue um livro de História Mundial, abra-o em qualquer página, e lá vai achar a peste do momento, vai achar uma guerra em andamento, vai achar uma crise religiosa, econômica, o que for, mas que haverá uma crise, haverá.
Nós mesmos, volta e meia vivemos uma crise de saúde, de afeto, de profissão, uma crise existencial, uma crise de feiura... Sem essa de achar-se um "excluído". Isso é desculpa de quem gosta de cotas, bolsas-família, ajudas paternalistas e esmolas existenciais. Estamos conversados.
Grito dos Excluídos? O trabalho inclui, a ele...!
*Escreve para o Jornal Diário Catarinense e participa do Jornal do Almoço da RBS.
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