*Verus philosophus est amator Dei - Santo Agostinho

domingo, 20 de abril de 2025

A infância esquecida pela história

Como era ser criança na Idade Média? A infância esquecida pela história Pouco se fala sobre elas, mas elas estavam lá. Vivendo à sombra dos castelos, entre o barro das aldeias, sob o olhar severo de monges, ferreiros e senhores feudais. Ser criança na Idade Média não era sinônimo de inocência ou brincadeiras. Era crescer cedo demais, amadurecer à força e, muitas vezes, morrer antes mesmo de entender o mundo. Infância medieval: um luxo para poucos Nos séculos que compõem a Idade Média (aproximadamente do século V ao XV), a infância não era vista como uma fase especial da vida. A maioria das crianças, especialmente as camponesas, eram tratadas como adultos em miniatura. Aos sete anos — idade considerada o marco da razão — meninos e meninas já tinham obrigações reais: trabalhar no campo, cuidar dos irmãos, aprender um ofício ou servir a uma casa nobre. Para as crianças nobres, o destino também era rígido, embora em moldes diferentes. Meninos eram enviados como pajens a outras famílias aristocráticas, onde aprendiam etiqueta, cavalgada, esgrima e deveres militares. Meninas eram preparadas para o casamento — muitas vezes arranjado ainda na infância — aprendendo a bordar, cantar e obedecer. Brincar era resistência Apesar da dureza da vida, as crianças medievais encontravam brechas para brincar. Com pedaços de madeira, ossos de animais ou bonecos de pano, elas criavam seus próprios mundos. Jogos de corrida, esconde-esconde e até simulações de batalhas existiam — sempre imitando o que viam dos adultos. Essas pequenas alegrias eram um alívio em um cotidiano de trabalho, medo e silêncio. Alta mortalidade infantil: crescer era sobreviver A infância medieval era marcada por um dado cruel: metade das crianças não chegava aos 10 anos de idade. As causas? Doenças, fome, guerras, abandono e parto sem cuidados. A medicina era rudimentar, e os tratamentos muitas vezes faziam mais mal do que bem. Uma simples febre podia ser sentença de morte. Por isso, as famílias tinham muitos filhos — sabiam que nem todos sobreviveriam. Esse dado frio, muitas vezes, levou ao mito de que os pais "não se apegavam" aos filhos. Mas os registros mostram o contrário: monges escreveram sobre mães que choravam inconsoláveis a morte dos filhos. A dor era silenciosa, mas existia. Educação? Só para poucos. A maioria das crianças crescia sem saber ler ou escrever. A alfabetização era privilégio restrito à elite e à Igreja. Meninos com vocação religiosa podiam ser aceitos em mosteiros e ter acesso aos livros — todos copiados à mão. Já as meninas tinham menos acesso ainda, a não ser que fossem de famílias muito ricas ou se tornassem freiras. Religião: o medo do pecado desde cedo Desde muito novas, as crianças eram ensinadas a temer o inferno, a obedecer aos mandamentos da Igreja e a rezar constantemente. A visão religiosa era dominante, e a salvação da alma importava mais do que o bem-estar do corpo. Por que precisamos falar sobre isso? Porque lembrar dessas infâncias é dar voz aos que a história apagou. É entender que, por trás das grandes guerras, dos reis e cavaleiros, havia pequenos rostos sujos de terra, mãos calejadas e olhos que sonhavam com um futuro que talvez nunca chegasse. A infância medieval foi real, dura, invisível. E merece ser contada. Retirado do Facebook

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